Nosso Amigo e Colaborador, Romário Sousa, fez a Travessia da Serra Fina, no feriado de 07 à 10 de setembro de 2017. Confiram tudo que ele sentiu nesses 4 dias pelas montanhas da mantiqueira.
A emoção em fazer Serra Fina:
Romário |
” Após fazer diversas trilhas por aí, principalmente em montanhas, Serra Fina (SF) era uma lacuna que faltava preencher. Já poderia ter feito há cerca de 2 anos, mas por falta de grana fui adiando e adiando, até que sentir que agora era a hora, não poderia passar deste ano! Para mim é algo que faltava no meu “currículo” (rs). Já estava pesando na mente não ter SF. Então eu tinha que fazer e pronto. Na minha opinião SF é uma travessia obrigatória para qualquer aventureiro que se preze (daqueles de verdade, que são apaixonados por montanhas). É uma das travessias mais clássicas, mais cobiçadas e considerada uma das mais difíceis do Brasil, e tbm uma das mais belas! Mesmo antes de ir já previa que seria uma aventura épica, recheada de paisagens incríveis, emoção e desafio a todo momento. E claro, foi tudo isso e muito mais. Não dá para externar toda emoção que você sente ao estar realizando a travessia. Só da para dizer que é uma experiência incrível e um grande privilégio (que poucos têm) de poder contemplar toda aquela beleza e riqueza natural. Só quem já esteve nas montanhas sabe o que estou dizendo. Não é nada fácil, óbvio, só o sofrimento torna tudo ainda mais extraordinário, se fosse fácil talvez não tivesse o mesmo sentido.
Antes de mais nada vale dizer que a travessia não exige muito tecnicamente, tem alguns pontos com cordas e algumas escalaminhas, e alguns pontos com certa exposição, mas nada mais complicado. O que pega na travessia mesmo é o peso!
Começamos pelo caminho tradiconal (sentido Capim Amarelo x Pedra da Mina x 3 Estados – têm gente que faz sentido contrário, de trás pra frente). Logo de início já é preciso pegar água, pode pegar na Toca do Lopo ou na Cachoerinha do Quartizito, eu deixei para pegar no Quartizo, evitando peso por alguns minutos. Depois daí que ferra tudo, pois só teria água no segundo dia da travessia, o que obrigou a carregar 6 litros de água, fora o peso da mochila – cerca de 20 kg nas costas! O primeiro dia foi o mais sofrido. Parecia que a subida do Capim não teria fim. Você sobe, sobe, sobe e quando acha que chegou tem mais um morro, e outro e outro… Cheguei ao cume com uns colegas às 11h03, iniciamos por volta das 5h00, então foram cerca de 6h de subida, com paradas para descanso, fotos e lanhce, pensando bem, nada mal devido ao peso.
Nascer do Sol, no Pico dos 3 Estados |
Aguardamos todos chegar e prosseguimos rumo a área de camping, que optamos mais abaixo. Na descida escorreguei 3x no mesmo trecho! e até aí só risos a 4° queda cai meio sem jeito, e senti uma dor no joelho. Nessa hora lembrei de um amigo que um dia machucou o joelho e não falou nada e acabou tendo dificuldades depois. Não queria passar o mesmo, então pedi para esperarem um pouco para avaliar o que tinha acontecido. Senti que teria dificuldade então utilizei um bastão de caminhada que o Danilo emprestou e que eu não exitei em aceitar e fui com bastante cuidado. Não queria deixar a SR logo cedo nem atrapalhar ninguém, então a parti daí tive cautela máxima, fui indo na manha. Graças a Deus não tinha sido nada de mais grave… Nessa hora um aprendizado pessoal. Você precisa ter humildade, saber ter cautela e ter em mente que você só termina a travessia se a montanha deixar!
Todos os dias foram de muito sol e o impressionante é que quando o sol se põe a temperatura cai drasticamente. Já sabia previamente que poderia chegar a temperaturas negativas. E isso era uma das minhas preocupações. A primeira noite (na área de Camping Maracanã) chegou a -2° C. Não passei frio, ainda bem! Segundo dia a caminhada seguiu rumo a Pedra da Mina, foi mais tranquilo, meu joelho tava melhor um pouco, ja estava mais confiante mas seguia com cautela. A mochila tava alguns quilos mais leves (menos água e menos comida) mas voltou a pesar um pouco novamente após encher as garras no Rio Claro, antes da Pedra da Mina. Aí foi subir a Pedra da Mina com 4 litros de água, mas comparado ao primeiro dia foi menos tenso. Ao chegar na Mina foi um alívio se livrar da mochila alguns minutos e relaxar.
Assinei o livro de cume, o grupo tirou foto e desceu. O vista da Pedra da Mina olhando para o Vale do Ruah foi a mais incrível da travessia, o cenário mais belo! Algo fantástico! De lá se vê todo o vale, avista o Pico do Cupim de Boi, o Três Estados, e ainda lá ao fundo o Agulhas Negras e Prateleiras no Itatiaia no Rio de Janeiro. Descemos e acampamos no Vale do Ruah. O cume é mais quente porém bate muito vento, o Vale é extremamente gelado, porém o capim alto forma uma excelente proteção contra o vento. Fomos pro Ruah não por isso, mas porque o cume não tinha vaga, é só uma constatação. O Vale do Ruah é um dos locais mais frio do Brasil. Eu particularmente, registrei -6°C às 5h00~5h30 quando acordei para ver o nascer do sol lá em cima na Mina. Alguns guias dizeram que fez -10° C/-12°C. A barraca, água, e outras coisas congelaram, estava realmente congelando. Meu parceiro Júlio, que acordou cedo pra pegar o nascer do sol comigo estava sem luvas e como estava com duas emprestei uma pro coitado (rs). Como o vale tem um capim muito alto e você não tem visão do que está a sua frente, saquei o celular que estava gravando com wikiloc pra achar o caminho, precisei tirar a luva pra segurar melhor o celular e minha mãos estavam doendo de tanto frio. Mas confesso que dentro de minha barraca não senti tanto frio assim. Nesse momento fiquei extremante orgulhoso de meus equipamentos e vestimentas! Até tava querendo vender meu saco de dormir e comprar outro melhor, mas depois dessas noite não me desfaço de nenhum equipamento, viraram meu xodó (rs).
O amanhecer na Mina foi sensacional. O sol nasce sobre o Parque Nacional do Itatiaia, bem entre o Agulhas Negras e o Prateleiras (no Pico dos 3 Estados é a mesma visão). No Pico dos Três Estados foi a noite mais quente, não tinha tanto espaço no camping para as barracas e nosso amigo Franco perguntou quem queria bivakar – eu! Bivakamos Franco, Shigeo e eu. No cair da noite o frio foi chegando e uma sensação de arrependimento por bivakar (dormir fora da barraca) mas foi tranquilo até de mais! Arrumamos um cantinho bem protegido do vento, dormimos sob o brilho da luz e das estrelas. Foi um noite quentinha de 6°C! O nascer do sol foi incrível novamente, nascendo lá sob o Rio de Janeiro. Tomamos café e partimos. Último dia, mochila leve, quase só descida, só uma.grande subida e o restante do caminho plano, uma delícia! No final a van lá esperando pronta pro resgate. Não precisa descrever a sensação de pegar a van pra voltar pra casa.
A travessia é uma escola, assim como qualquer montanha. É uma escola da vida que te ensina a se adaptar as situações adversas, superar desafios, a vencer. Você não sai letrado nem diplomado, é claro, mas você aprende o que é viver. Montanhas são um imenso laboratório ao ar livre onde você experimenta o verdadeiro sentimento de conquista e passa a saber o que de fato é liberdade!A emoção em fazer Serra Fina.”
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