Relato: Travessia – Alto Palácio x Serra dos Alves

Pesquisando destinos pouco usuais ainda, encontrei uma travessia na Serra do Cipó, começando pela portaria Alto Palácio, perto de Conceição do Mato dentro. Conversei com algumas pessoas sobre a possibilidade de fazermos essa travessia em umas 10 pessoas no máximo, porém algumas não puderam ou foram desistindo e resolvi ir em 5 pessoas somente, para facilitar o resgate no final.

Grupo criado no WPP, feito a divisão dos itens que cada um iria levar e ficando de olho nas passagens da Gontijo, sim a Gontijo oferece horários mais flexíveis do que a Cometa para a Rodoviária de BH.

A data da nossa saída de São Paulo para Belo Horizonte era dia 26/12/19, época de verão onde muitos tem que ter cuidado para fazer travessia em campos de altitudes, pelo elevado risco de chuvas e exposição drástica ao sol.Portanto a menos que você seja um trilheiro de temporada, vá no outono ou inverno. Eu ainda levei um conjunto de roupas térmicas, 2 pele e fleece e mal utilizei, é uma maravilha você ficar fora da barraca à noite, com poucas roupas, sem congelar.

Dia 26/12/19– Chegamos na rodoviária do Tiete e logo embarcamos num ônibus super novo da Gontijo, ainda dava pra sentir o cheiro da Tinta. Previsão de 9h de viagens com duas paradas no meio da estrada. Nesse trajeto a Gontijo faz suas paradas em locais mais simples do que os super faturados Graal e Frango Assado da Cometa, tem opções para comer e usar o banheiro, mais do que isso, seria luxo e desnecessário, então não achei ruim as paradas.

Dia 27/12/19 – Chegamos às 05:15 na rodoviária de Belo Horizonte e enviei mensagem ao nosso parceiro Julio que foi um dia antes de BUSER, está ae uma boa dica para quer economizar. Ele gastou R$ 100,00 entre ida e Volta ( a primeira viagem você tem desconto ).

Juntou a equipe de 5 em BH e tomamos um simples café da manhã. Caso você queira utilizar o banheiro na rodoviária e não esteja com Passagem de embarque a partir de lá, terá que desembolsar uma quantia de R$ 1,50.

Para chegar à Portaria Alto Palácio, partindo de BH, você tem duas opções: Viações Serro ou SariTur. Ambos tem passagens a partir de R$ 35,00 e irá de deixar em em frente a Portaria do Parque, só não esquece de avisar ao assistente de viagens, pois ele sera sua ponte junto com o Motorista, uma referencia para descer é a Estatua do Juquinha que fica à 3,5Km da entrada do Parque.

05:30, descemos para a Plataforma de embarque da Serro ( você só pode descer 30′ antes do embarque ), e pouco depois de quinze minutos o ônibus encostou na Plataforma. Perguntei ao motorista, ao assistente de viagem e nenhum dos dois sabia onde era a portaria Alto Palácio, um deles ainda disse que conhecia um lugar chamado como “Fazenda Palácio”, o jeito então era ficar de olho no Google Maps e avisamos à ambos da estatua do juquinha. O Ônibus aqui não é uma maravilha, ele vai cheio, não tem ar condicionado e nem todos abrem as janelas. E se você for ficar no fundo, vai cansar de tanto pular com as ‘trocentas’ lombadas que irá encontrar pelo meio do caminho. Partimos às 06:15 da rodoviária de BH, o ônibus roda uma boa parte da Cidade até chegar na MG-010, rodovia bem sinalizada e asfaltada e cheia de lombadas.

Início da Travessia

O calor toma conta do ônibus, pessoas entram e saem e depois de pouco mais de uma hora, uma parada de dez minutos na rodoviária de Rodoviária São Jose de Almeida, se for usar o banheiro paga-se mais R$ 1,00. Aqui o ônibus demorou uns 20 minutos e logo voltamos a Rodovia Mineira, em direção a sede Alto Palácio.

Sempre de Olho no Tracklog e no GoogleMaps, avistamos a estatua do Juquinha e por fim a entrada da Travessia, nesse ponto o Assistente de Viagens disse: “Ah, é onde o povo desce para fazer trilhas”.

Pegamos as cargueira, mostramos nossa autorização da travessia.

Foi possível pegar água e usar o banheiro da sede. A turma do Imcbio foi bem cortês conosco. Desejou boa travessia e partimos.

Quero abrir um parenteses nesse ponto: No primeiro diz, fiz os 18Km da travessia com o estomago zuado. Acredito que por ter tomado uma xícara inteira de café expresso, assim que chegamos na rodoviária de BH, portanto nesse dia, eu fiz a travessia em silêncio, caminhando e sentindo pequenas dores.

Pausa para foto no Portal de acesso a Trilha e um dos brigadista do Parque se oferece para tirar foto do grupo, claro que aceitamos. Fotos registradas e começamos numa pequena subida em direção à antena, onde o mesmo nos disse que pode haver sinal de celular, apenas para ligação. Nada de internet.

O tempo estava maravilhoso para caminhar, bastante vento, sem sol e assim subíamos suavemente, até começar a perder toda a elevação ganha. E torna a subir denovo. Perto das 11:00 fizemos uma parada para passar protetor pois o sol já começava a mostrar que iria vir para ficar e não seria pouco não. À temperatura ultrapassaria mais tarde os 30ºC, sem sombra, sem vento e sem arvores. Comemos algo e voltamos a caminhada.

O primeiro dia seria o mais puxado dos três, pois são 18KM até o primeiro local delimitado para acampar, com ganho e perda de elevação considerável, se comparado com os outros dias. Embora tenha bastante subida, nenhuma que possa ser considerada difícil, pois você vai ganhando altitude aos poucos, diferente das montanhas da Mantiqueira.

As pinturas Rupestres, marcam a metade do primeiro dia. Parada para apreciar e ao lado tem um bom local para banho também. Esse trecho você encontra uma bifurcação mas tem indicação do parque para onde tem que seguir. A partir de agora começa uma descida bem tranquila até um dos pontos mais charmosos da Travessia, o Vale do Travessão: sem dúvida uma das mais lindas paisagens dessa travessia, porém outras também merecem atenção.

Pintura Rupestres

Após o vale do Travessão começa um suave subida que culmina em um lindo ponto de água, onde encontramos um grupo fazendo a Travessia, para surpresa, alguns membros desse grupo eram conhecidos, após uma breve conversa, continuamos seguindo sentido o primeiro dia de camping que seria na casa de Tabuas.

Vale do Travessão

O Parque está sinalizando um novo trecho da trilha, apesar do tracklog dizer para seguir a direita, a nova marcação do Parque pede para ir à esquerda e assim o fizemos. A trilha some e você só sabe que esta na mesma pelas diversas estacas pintadas em amarelas pelo meio do caminho. O mato aumenta e você não tem muita segurança do terreno que esta pisando então aos poucos fazemos o translado em direção a demarcação da trilha que pedia ir à direita, a trilha ainda está bem batida e poucos metros à frente, encontramos a Casa de Tábua que serve como abrigo aos brigadistas do Parque, esse é o único local permitido acampar no primeiro dia. Dentro da casa encontramos mais rostos conhecidos, um deles a Agatha, veio e conversou bastante conosco, enquanto o grupo dela não chegava.

Escolhemos uma boa área para montar às barracas e depois, quase todos, menos eu, foram ao Rio tomar um banho e se lavar daquele calor. Preferi ficar só no lenço umedecido, pois já estava tarde para tomar banho gelado, visto que uma tosse me acompanhava pela travessia.

Foi bem legal cozinhar à noite, sem muitas roupas, às outras experiencias na Serra Fina, foram bem frias, mesmos bem agasalhados era quase impossível ficar fora sem que as mãos tremessem.

Assim foi finalizado o primeiro dia da Travessia, tudo bem tranquilo, sem grandes desafios e com uma natureza exuberante que nos recebeu e acolheu bem.

Dia 28/12– Uma leve brisa persistia às 06:00, horário que combinamos de acordar e fazer o café da manhã, antes de partir para o segundo dia, que seria o dia mais tranquilo da travessia.

Para podermos agilizar fomos até à frente da Casa de Tabuas e usamos ela como proteção dos ventos e ali sob a varanda fizemos o café, o grupo que lá tinha ocupado, perguntou que queríamos utilizar a parte interna da casa para o feito, porém não foi necessário. Fizemos um delicioso café Gourmet aromatizado de Amêndoas, numa cafeteira italiana, rap 10 com queijo e salame e um bolo de chocolate, estilo pulman. É uma maravilha fazer um café fresco na montanha, como se estivesse em casa. Por aqui nada de café solúvel, apenas cafe Gourmet.

Interior da casa de Tábuas

Terminamos o café e logo tratamos de desarmar acampamento e arrumar as cargueiras, para dar continuidade a trilha. O grupo que tinha dormindo dentro da casa de tábuas já tinha ido nessa altura e saímos quase uma hora depois.

O segundo dia da travessia é bem tranquilo, com uma linda paisagem que merece bastante atenção. Você irá passar por terreno de gado, campos floridos e avistar diversas formações rochosas peculiares, um olhar bem atento garante que esse dia, possa garantir umas imagens fotográficas.

Esse é o dia que você encontrar um maior número de marcações na trilha, principalmente das estacas com tintura amarela na ponta, basicamente e seguir eles e a trilha que esta bem demarcada. Com menos de quatro horas de caminhadas, chegamos ao segundo local de Camping: O Curral.

Um abrigo que eventualmente é utilizado pelos brigadistas do parque, é permitido acampar somente em volta deles em duas áreas que são praticamente plana e gramadas, sem pedras. O espaço é bem grande e ainda tem um rio atras, o que permite um bom banho e relaxar daquela tranquila caminhada.

Segundo abrigo, Curral

Quando chegamos, encontramos com a Agatha, onde ficamos conversando um bom tempo,o grupo dela tinha descida até a Cachoeira do Brauna e ela preferiu ficar ali esperando. Nesse meio tempo de conversa, um grupo de cinco motoqueiro parou de frente a casa, perguntou se ali havia água, prgou fizeram algumas perguntas, e falaram que estavam indo sentido à Serra dos Alves, de fato no terceiro dia, deu para avistar diversas marcas de motos na trilha, indicando que outros grupos da modalidade, utilizam a trilha com o veículo. A casa tem um fogão a lenha, que não é aconselhado a utilização, camas e diversos alimentos, deixados por quem passa por ali e não quer levar o resto de alimento cru, eu particularmente recomendo levar, pois cada vez mais vai enchendo de alimentos que mesmo fechados, podem atrair diversos animais. A casa é feita de tabuas e pau a pique que por si só, já é suficiente para a presença de peçonhentos no local.

O abrigo possui também um fossa seca, que dá para utilizar sem problemas e um banheiro para troca de roupa com um chuveiro feito a partir de um balde, uma ideia simples mas que funciona muito bem.

Fomos aproveitar o rio atrás do Curral e todos tomamos banhos e relaxamos.

Após o jantar, pegamos nossas mochilas e barracas e montamos na parte de camping, nessa altura o grupo da nossa colega Agatha ja tinha chegado e estava cozinhando, eles decidiram acampar dentro do curral, uns sobre as camas, outros montaram barracas dentro da casa e outro barraca do lado de fora da casa.

Aproveitamos essa noite para tirar diversas fotos noturnas, o céu estava super iluminado e brincamos um pouco com luzes e câmeras.

Dia 29/12- Acordamos às 05:30 com uma garoa que foi suficiente para molhar a cobertura das barracas. Umas 06:00 fomos para dentro do Abrigo e fizemos o café da manhã, dessa vez o sabor do café era de chocolate trufado. O rap10, claro que fez parte novamente dessa rotina matinal. terminamos de lavar as coisas, arrumar as mochilas e fomos dar uma pequena limpeza nas barracas e secada, para assim finalizar a trilha nesse que seria o último dia da travessia.

Céu estrelado

Na saída do Curral, tem uma placa indicando o caminho a ser percorrido, sentido Serra dos Alves, o começo tem uma subida suave, que logo se transforma numa longa reta, passando por enormes áreas, onde possivelmente o gado passa. Tem alguns trechos de águas nesse caminho, mas eu não pegaria, devido a grande quantidade de merda dos animais que por ali passam. Aconselho levar no minimo 1,5L de água do Curral. Você pode pegar na torneira que ali montaram, onde a água tem um gosto de ferro ou no rio abaixo, onde a água não tem gosto e tem apenas coloração amarela devido a presença de ferro na região.

O trecho do terceiro dia tem apenas 12Km de caminhada, sendo 7Km de descida, nada muito íngreme que vá usar seu joelho ao extremo, mas é aconselhável o uso de bastão em toda caminhada, principalmente nesse trecho onde tem muita rocha e várias soltas. O último dia você quase não encontrará nenhuma marcação do parque durante a trilha, porém a mesma está bem demarcada, você irá encontrar apenas uma Placa do ICMBIO falando da área do parque e nada mais. Irá continuar a trilha até a região onde se forma um outro canyon, o Boca da Serra, abaixo dele tem uma bela cachoeira para banho.

Canyon Boca da Serra

Logo mais a frente você encontrará a casa verde, onde um dia já morou alguém, essa casa foi comprada pela Vale e doada ao Parque, como forma de compensação ambiental, na parede você irá encontrar diversas rabiscos, presença frequente de pessoas na trilha e travessia. A descida continua até a bifurcação que leva ao interior do canyon e a Cachoeira da Luci. Opte por ir até a Cachoeira ou seguir em frente.

Logo à frente, uma antiga pousada também comprada pela Vale e doado ao Parque, toda em madeira e com marcas da passagem de diversas pessoas na região. uns 500 metros à frente fica o primeiro acesso à cachoeira do Cristal, como estava cedo, resolvemos descer o pequeno morro e ficar por ali por um pequeno tempo. Logo apareceu carvão e churrasqueira e vimos que já que era hora de sair, porém um lugar muito lindo.

Cachoeira dos Cristais

A trilha continua descendo o que no passado era uma estrada, você irá passar por uma cerca até o terreno ficar plano e começar aparecer diversos cavalos à sua frente, um indicativo do final da travessia. Lembrando que esse trecho não tem nenhuma marcação e no final se você não conhece o caminho irá encontrar umas bifurcações, a saída é onde tem uma ponte pencil em péssimo estado de conservação, passe sob a mesma e você estará na estrada que leva à Serra dos Alves.

A caminhada ainda não tinha acabado, restava 1,5Km de pernada até alcançar o vilarejo, o sol castigava essa altura, às pedras no chão emanavam um calor absurdo e a subida se fez presente nesse trecho.

Vilarejo alcançado, agora era ir em direção ao contato do nosso resgate, que nos levaria para a Rodoviária de BH, pois o ônibus para SP, partiria às 20:45. Uma conversa rápida com um funcionário que trabalha num bar, que o mesmo nos apontou o local.

Assim que passamos em Frente D.Ana já reconheceu a gente, entramos na Pousada Portal da Serra, onde a mesma trabalha e fomos muito bem recebidos pelo Sr Chiquinho, dono do local.

No ofereceu banheiro que não foi recusado por ninguém. Tomamos um maravilhoso banho enquanto Ana Preparava o almoço: Frango, carne moída, torremos, salada e outros.

Final da Travessia

Matamos quase 5L de refrigerante entre nossa chegada à Pousada e o almoço.

Fizemos o pagamento e o Sr Chiquinho disse que estava pronto para nos levar à BH. Partimos da Pousada às 15:30 e chegamos às 18:15 em BH.

Agradecemos o resgate e prometemos voltar para conhecer novos lugares e explorar novos horizontes.

Caso vá sozinho, não recomendo que ande sozinho, principalmente à noite perto da rodoviária, o local não parece muito seguro. Ao lado da rodoviária você pode encontrar diversos comércios que da para suprir qualquer necessidade que tenha.

Fica aqui meus agradecimento à nossa Equipe da Travessia: Dominique, Júlio, Larissa e Shigeo, cada um teve um papel importante para garantir harmonia, união, logística e garantir a alimentação também na trilha, visto que cada desempenho um papel e levou algo importante.

União e parceria são fundamentais para travessia desse nível. Juntos tudo fica mais fácil, prático e simples.

Abaixo LINKS que poder ser útil para a travessia:

ÔNIBUS PARA BH:

Gontijo- http://www.gontijo.com.br/

Cometa- https://www.viacaocometa.com.br/

Buser – https://www.buser.com.br/

ÔNIBUS DE BH PARA PORTARIA ALTO PALÁCIO

Serro: https://serro.com.br/

Saritur: http://www.saritur.com.br/

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